Tuesday, December 12, 2006

AUTO-RETRATO

Nasci na cidade de Senador Pompeu (Humaitá é o seu nome de origem e o de minha preferência), no sertão central do Ceará.
Casado e pai de três filhos.
Altura: 1,75. Já fui mais alto e vi por cima da colina do coração a alegria de se viver; e, quando mais baixo, rastejei no porão lutando pela vida. Hoje tenho a altura da abstração, talvez mais real.
Roupas escuras e olhos furta-cores.
Alucinado por futebol, craque em todas as posições. Por não ter sido jogador profissional aprendi a racionalizar frustrações.
Gosto de viajar à Humaitá somente para colocar as cadeiras na calçada e conversar com os compadres de meu pai, como quem chama os espíritos ancestrais do lugar.
Não gosto de telefone nem de televisão. Adoro teatro e cinema. Fui ator para perder a timidez e, mesmo assim, tomei muita cachaça para poder cantar as meninas.
Tenho horror aos esnobes e arrogantes.
Amo as mulheres, com uma queda pelas sonsas e míopes.
Não existe nenhum tipo de comida que não me agrade.
Não vivo sem música - do samba à clássica, sem esquecer a música popular brasileira e o rock n’ roll dos anos cinqüenta.
Leitura predileta: tudo que me cai diante dos olhos. Continuo à procura do livro de cabeceira e desconfio que jamais irei encontrá-lo.
Fui acólito, estudante, jogador de futebol, meio hippie, ator, boêmio, advogado dos pobres, ateu, trotskista, professor, agnóstico, anarquista e franciscano. Tudo como bagagem para continuar pregando contra o capitalismo.
Escrevo crônicas e contos como quem mostra a cara em um ato de rebeldia e coragem. Vomito os textos no silêncio da madrugada e, na brisa dos primeiros raios do sol, passo-os a limpo.
Herdei a desconfiança, a solidariedade, a pobreza e o paraíso como os melhores ângulos de enxergar a vida.
Quando a tristeza bate em meu peito vou fundo e abraço a morte. Quando a alegria invade a alma, imediatamente, penso nas crianças famintas e tiro a máscara da vaidade.
É duro conviver comigo.
Meus melhores amigos têm raízes na infância, nas peladas de futebol, nas mesas dos bares e nas esquerdas do caminho da vida.
Quando morrer espero me encontrar com São José, Francisco, o santo de Assis, José de Alencar, Machado de Assis, Graciliano Ramos, Jorge Amado, José Maria Moreira Campos, Antonov Theckov, Clarice Lispector, Elvis Presley, John Lennon, Raul Seixas, Santa Clara, Marilyn Monroe, Liv Ulman, Margot Hamingway, Dina Sfat e Leila Diniz pelas esquinas do héden em brancas nuvens.

3 Comments:

At 3:13 PM, Blogger literaria said...

Gostei da espontaneidade com que escreves.
um grande abraço e boas festas

 
At 5:05 PM, Blogger airtonfranco said...

1/05/2006
Um primo por outro.
Airton Franco, delegado de Polícia Federal aposentado.

O meu momento, hoje, em maio de 2005, é de descrença. A minha esperança política consuma-se velozmente. Os governos da esquerda são tão bisonhos e pífios quanto os da direita. Haja corrupção, haja discursos ambíguos... O verdadeiro pano de fundo, ao que me parece, não é a violência urbana tão intensamente exibida na mídia mas a corrupção cuja invisibilidade os potentados ainda a controlam e o povo a tolera, impassivelmente, como que por meio de injustificável eufemismo...

Ler Senador Pompeu em crônicas foi um elixir espiritual. Foi uma benção. Compreendi, ali, dignas atitudes da criatura humana. José Maria Saraiva Junior, meu primo, seu autor, é um craque das palavras e de condutas. Um epistemológico.

Não obstante o fervor da ditadura militar tínhamos, eu e ele, naturais sonhos de adolescentes. Ele sempre mais inquieto e de espírito mais livre pela saudável influência de sua professora-mãe. Eu, taciturno. Ele conversava avidamente com as pessoas e fazia amizades facilmente. Eu conversava muito comigo mesmo e tinha surtos de espontânea extroversão quando diante dele e de sua irmã, Bete. Ríamos prazerosamente. Dizíamos sempre o que o ego do outro queria ouvir. Éramos ingenuamente felizes...

Impressionava-me, deveras, sua natural habilidade para lidar com várias namoradas, seu pendor pela leitura, pelos livros e pela poesia. Ainda me lembro de quando o Daniel, amigo comum, leu uma de suas poesias salvo engano na Casa da Cultura de Fortaleza e um dos seletos jurados fez menção de que os Saraiva de Quixeramobim são mesmo inteligentes e idealistas tal como o foi Antonio Conselheiro, tal como o são os filhos ilustres daquela belíssima cidade. Ainda me lembro de outra poesia que falava qualquer coisa sobre asfalto verde. Era uma espécie de protesto alternativo. Afinal aprendi com ele a ouvir Raul Seixas, nosso maluco beleza, nosso ídolo maior, o parceiro do não menos genial Paulo Coelho, de quem, bem depois, li dois ou três livros.

Percebo, hoje, que meu primo Saraiva Junior excedia-se agradavelmente por atitudes líricas e românticas. Fez, ao seu modo, o bom combate contra os reacionários do poder. Certamente não foi um genuíno revolucionário, mas com certeza não foi um Genuíno delator...

Certa feita, eu, ele e Daniel fomos de trem até Quixeramobim. Nosso falso pretexto: seguir um Circo que tinha acabado de passar por Senador Pompeu. Na volta, decidimos aventurar, caminhando, uma carona. Guardadas as proporções, imaginávamos ser os cavalheiros da estrada pertencentes a uma honrada aristocracia de viajantes. Eis nossa odisséia por aventuras. Nosso belíssimo grito por liberdade... Éramos, sem saber ou sabendo, três inofensivos mosqueteiros do bem ou três desbravadores Che Guevara tupiniquim...

E como era bela aquela paisagem, que vimos, andando - ainda fixa em minha mente - por sobre a barragem de Quixeramobim !

Como se vê, não há mais adolescentes como antigamente ou como no nosso tempo...

O adolescente Saraiva Junior foi sempre altivo e determinado como o foi seu honroso pai. Foi despojado de grandes ambições materiais. Soube ousar. Foi preso pela ditadura. Na época eu não entendia direito o verdadeiro motivo de sua prisão e o porquê de outros amigos seus...

Neste ponto o destino nos impôs caminhos diversos. A minha predestinação impunha-me a ser parnasianamente mais objetivo. Eu precisava rapidamente de um emprego, de um sustento de vida... E assim ingressei por concurso na Polícia Federal. Fiz carreira e família. Fui superintendente e secretário de segurança. Aposentei-me. Tentei carreira política no PC do B. Fracassei. Ele militou como advogado, constituiu família, e também por concurso é hoje auditor fiscal do trabalho.

Vivemos nossa adolescência, eu e ele, no momento áureo da ditadura militar. Na época do milagre brasileiro. Não por milagres, mas por estudos, conseguimos empregos...

Nunca tivemos ambição pelo ganho fácil.

A palavra está, agora, com nossos filhos...

Do primo. Airton Franco.
posted by Airton Franco @ 1/05/2006 03:09:00 PM

 
At 11:22 AM, Blogger Unknown said...

Saraiva é uma pessoa predestinada ao especial!Uma estrela que viaja a todo instante pelo universo de todas as pessoas que toca.
Ama o que faz, é o mestre do fazer e do deixar acontecer...
Ele é assim... muito mais que apenas mestre, é a prova de que a felicidade existe e que vive forte dentro de cada um de nós.
È único! Penetra todas as almas e verdades porque, mesmo sabendo que nunca se sabe ao certo o que está por vir, nos faz a todo instante experimentar que o acreditar é o que faz a diferença... Porque realmente faz...
Feliz 2009, que todos nossos sonhos se realizem... Abraço fraterno!

 

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